Verde não te quero ver
– Tem gente que é bonita e é grande, mas só tem tamanho, ainda não amadureceu.
– Também sou assim.
– Tem gente que é bonita e é grande, mas só tem tamanho, ainda não amadureceu.
– Também sou assim.
Convives com quem te serve de adubo ou com quem é teu parasita?
Quando pisarem em ti, vais agüentar ou sucumbir?
Riquezas se esvaem. Portas se fecham. Cores se perdem. Belezas se desmancham.
Mas um paraquedista me disse que a 10.000 metros de altitude, o céu é sempre azul.
Um segundo pode ser muito tempo.
Mas foi esse tempo que durou o olhar dela.
Viu um assassinato? Um monstro? O que?
Viu uma poça que não era sangue.
Viu um espaço que não tinha fantasma.
Viu um vazio e era ali mesmo.
Seu carro estava vazando muito óleo.
Parado.
Preso.
Correndo e fazendo barulho.
Bufando até o último fôlego, sem sair do lugar.
Tenho pena de ti.
E, às vezes, até de mim também.
Pelo menos, estás por cima.
Algumas portas devem permanecer fechadas.
As janelas... Ah! Essas bem que podiam estar abertas.
– Lembra quando te encontrei aqui, estatalado? Parecia uma criança vendo algo maravilhoso pela primeira vez. Nem falou comigo direito. E eu, boba, querendo puxar conversa contigo. Eu achei tão bonitinho esse teu jeito de olhar. Tem coisa que não tinha como mudar. Eu continuo uma boba do teu lado e você continua aéreo.
– Hã? É... Eu estava aqui lembrando... Parece que essa praia está a mesma coisa de antes. Foi aqui que eu te conheci, né?
– O que vocês vão querer?
– Um pastel de queijo e um caldo de cana!
– Eu também! Mas o meu é misto!
– Tem pão-doce?
– Não.
– Então eu quero um de carne e uma Grapette.
– SAINDO UM QUEIJO, UM MISTO, UM CARNE E DOIS CALDOS!
– E a minha Grapette?
– Quer agora ou quando o pastel chegar?
– Não, não, pode deixar.
Logo após ser apresentado, sua anfitriã o deixou na companhia de sua colega, que tentou ser o mais educada possível, falando pausadamente para que o forasteiro pudesse entendê-la.
– Tudo bem?
– Tudo bem!
– Ah! Falas português?
– Falo sim! Nasci aqui.
– Foi? Que interessante! Mas tu falas muito bem para quem morou fora.
– Mas só morei um ano.
– Moraste onde?
– Schroon Lake, Nova York.
– Nova York?
– Uhum, upstate.
– E na França?
– Lá não, só Estados Unidos.
– E tu não és francês?
– Não.
– Tu não a conheceste pela net?
– Sim! Fazemos parte de uma turma de pseudo-escritores.
– Entendo... (quem é esse cara, afinal?)
Mal sustentava-se.
Era apenas um conjunto de pedaços.
Desconexo. Desconexos.
Depois do rompimento, ficar em pé era uma façanha.
Até que caiu.
Já não era o mesmo.
Não era melhor que antes.
Não era pior.
Era diferente.
Ganhou outra perspectiva.
Outro sentido.
Pelo mundo seguiu-me e cansou.
No segundo seguinte, casou.
Se a estrada nem estava no fim, o que foi que fiz?
Preferiu estar segura, ainda que menos feliz.
O belo ainda seria visto.
Continuo. Só insisto.
É um momento, nada mais.
Mas há momentos que duram mais.
Opcionalmente
Propositadamente
Sim. Tudo e todo pobre, somente.
Não adianta falar agora, nem posso reclamar.
Fui avisado para ir embora, mas deixei-me enlaçar.
A porta de vidro se fechou... e não pude me safar.
...é sempre assim.
Deixa ver se eu entendi: sempre que eu tiver um problema, eu deixo isso aqui ligado, certo? Mas me diz uma coisa: Será que existe gente no mundo que anda com isso aqui desligado?
Nem te preocupe, meu amigo. Já passei por isso, já sei o que é perder o chão, já sei o que é cair, já sei o que é se partir. Nunca volta a ser o que era antes, nem sempre a mudança é boa, mas o que existe nessa vida que não mude? Quem sabe, se com cuidado, a gente não fique em pé por mais um tempo?
Um grande pedaço do mirante do Farol do Cabo Branco desabou, por causa da erosão da falésia na qual se encontra.
Blackout no bairro.
De outro modo ninguém perceberia...
...que não se precisa de luz esta noite
...que a pedra do chão não está tão fria
...que é até gostoso deitar no chão e olhar o céu
...que a lua reflete o brilho do teu sorriso
...que você deveria estar deitada aqui também
...A natureza...
...é imensa...
...pequenos...
...somos nós...
(Clique nas imagens para vê-las maiores)
Gosto quando ela me morde.
Gosto ele me prende.
Quando ela me arranha.
Quando ele me puxa pelos cabelos.
Gostoso é o suor dela.
Amo a força daquele abraço e o peso do corpo quente.
O que eu fiz? O que eu fui? De onde vim? Eu poderia lhe amar por toda a vida, mas você insiste em trazer meu passado para o pressente. Você quer amar quem eu fui. Quer amar? Eu não. Eu passo, num passo rápido bem passado. Eu não lhe amo mais.
Na multidão, eu sigo só. Optei por não me machucar mais. Mas o dia está estranhamente claro e é assim que termino.
Ganhei asas e voei.
Aprendi e você não me viu.
Na verdade, ainda faltam lições...
Mas tenho pressa.
E se saltar daqui?
Caio no teu colo?
Ou vôo até aí?
Só não quero me esborrachar.
Só.
Não quero contemplar.
Quero fazer a cena:
Bem-te-vi
Bem te vi
Bem tive
Bem te tive
Bem te vivi
Bem bem.
Agora em inglês e de outro modo:
In present continuous forever.
Existe gente que entra sem permissão na vida do outro.
E faz barulho,
E faz confusão,
E faz uma bagunça danada,
E finge que nem sabe
(ou sabe)
...o que aquela vozinha de criança provoca...
Existe gente que lhe tira do sério
E faz perder a concentração
E basta lembrar da sua existência
...para não se conseguir fazer mais nada no dia...
(Será que existe um botão de desligar?)
Há mais do que vejo
Olho e não há nada
Mas há
E eu nem sei como lidar
Prega-me peças
Fala meu nome
Olha para mim
E eu sem saber as regras do jogo
Surge do nada e assalta-me
E eu?
Você me vê um, mas eu sou dois.
Você me vê poeta, mas eu sou louco.
Você me admira e eu nem sei porque.
Você me tem como exemplo, mas meu exemplo é você.
No cansaço das letras, eu peço seu colo.
Mas guardo meu pedido debaixo do travesseiro,
E tudo o que for de desejo, sonho e pesadelo.
Uns mofando outros assombrando,
Mas isso não importa, meu lugar é aqui,
Por enquanto, enquanto não for dormir.
– Eu não te entendo.
– Eu é que não te entendo.
– Por que? O que é que você não entende?
– Você!
– Isso não é resposta.
– Então diga o que é que você não entende em mim?
– Sei lá! Só sei que não te entendo.
– Viu! Você gosta de implicar comigo, eu sou facinha de entender.
– "Facinha"? Pelamordedeus! Você fotografa e cataloga meus passos pra pegar no meu pé.
– Você que é esquecido demais. Não sabe responder e fica tentando me enrolar com essa sua lógica furada.
– "Furada"? Aonde furada?
– Ah... Sei lá! Só sei que não te entendo.
Eu vejo uma caixinha de surpresas.
E lembro da minha infância: "daí sairá um palhaço de braços abertos ou uma cobra saltitante?" – Nunca se sabe...
14h
Eu espero
Tu esperas
Ele demora
Nós conversamos
Vós atrasais
Eles perdem a hora
16h
Eles se esquecem
Vós nos zombais
Nós o praguejamos
Ele não vem
Tu me abandonas
Eu desapareço
18h
O fôlego gasto inutilmente, é um pedaço da vida dissipada.
É uma fração somente, que leva o todo a nada.
Que dia terrível, olho para o céu e vejo o inferno. Em mim e ao meu redor sinto a vida se esvair.
Estava aqui, eu li, eu vi... esqueci. Perdão, perdi.
O sol vira seu rosto. As nuvens turvam meus olhos. Já não basta a sensação de indefeso e nu. Preferia estar só a desamparado.
Então o céu se abriu então eu entendi: não há prazer na existência inútil, e se no meu fim eu fui útil, eu devo ir embora feliz.
Adeus.
Ponho uma lápide neste lugar?
Ou apenas o lapido um pouco?
Quem anda dilapidando meu tempo?
Peço que indiquem o culpado.
Neste tribunal sou o réu, o promotor, o defensor e o juiz, ao menos tenho um júri que vai além de minhas múltiplas personalidades, e é a este Egrégio Tribunal do Júri a quem recorro.
Aos doze fiz teatro e aos quinze poesias. Muito pouca experiência para se dizer artista, acredito que até teria uma veia artística, não como a veia cava, mas não tão desprezível quanto um capilar. De qualquer forma, o colesterol da rotina e de outros afazeres entupiram a coitada e passei a ser um mero apreciador e espectador. E quando pensei que aquele lado havia gangrenado, recebo soro de muitos, a veia dilata e segue num fluxo que jamais tinha visto: uma composição de letras e imagens fluem em ritmo furioso.
Mas não tenho tanto sangue assim, e sinto tonto carente de sangue em outras regiões. O equilíbrio nunca foi meu amigo e nem agora é (e eu pensando que meu único inimigo era o tempo). Na lista de coisas que poderia cortar da minha vida estou pondo em juízo este lugar.
Caso você não saiba, também tenho um blog que está passando pelo mesmo julgamento.
Como jurado, quem você condena? E quem você poupa?
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Caleidoscópio: do Gr. kalós, belo + eîdos, forma + skop, r. de skopein, olhar. Fonte: Priberam Informática. || online ||
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